Ademir Bernardes Alcântara, ou somente Ademir Alcântara, como ficou famoso no mundo do futebol, nasceu no dia 17 de dezembro de 1962 em Mandaguaçu-PR. Ainda criança se mudou para Cianorte, onde começou sua carreira no Cianorte em 1979. Na sequência, defendeu o Pinheiros de Curitiba, antes de chegar na Boca do Lobo para defender o Pelotas na temporada de 1984. Após o grande destaque no Pelotas, se transferiu para o Internacional. Na sequência defendeu com grande destaque o Vitória de Guimarães, sendo contratado pelo Benfica, um dos gigantes do futebol mundial, onde atuou por 3 temporadas, disputando as principais competições do continente europeu. Depois ainda defendeu o Boavista e Marítimo antes de retornar ao Brasil para defender o Coritiba, onde formou o meio campo ao lado de Alex, que até hoje o cita como inspiração.
Pelo Pelotas, Ademir Alcântara se tornou o maestro de um time que chegou no Hexagonal final da competição, e encantou o torcedor com seus passes precisos e gols inesquecíveis. Não a toa, ganhou o apelido de Maestro.
Já na estréia com a camisa do Pelotas, no dia 21 de abril, Ademir marcou o gol da vitória do Pelotas sobre o Santa Cruz por 1 a 0, na Boca do Lobo.
Esse foi o primeiro dos 21 gols marcados com a camisa do Pelotas no Campeonato Gaúcho, terminando a competição consagrado como artilheiro.
Entre suas vítimas, a maior de todas foi, sem dúvidas, o arqui-rival. Nos seis clássicos disputados no campeonato gaúcho daquele ano, Ademir marcou 3 gols. Foram duas vitórias e quatro empates, ajudando a manter a invencibilidade do Pelotas, que duraria por 10 anos.
E no dia 04 de outubro de 1997, a Boca do Lobo teve a honra de receber, para sua última partida, o Maestro Áureo Cerúleo, que no empate em 0 a 0 com o Rampla Juniors/Uruguai, despediu-se de forma oficial dos gramados.
Rapaz simples, responsável, com uma conversa muito franca. Esta é a primeira imagem que se tem ao conversar com Ademir Bernardes Alcântara, 21 anos, morador de Cianorte, cidade de 65.000hab, no interior do Paraná.
Ademir é um verdadeiro craque, joga com uma categoria e possui uma intimidade com a bola, como poucos dentro do futebol Brasileiro. Em pouco tempo tornou-se o maior ídolo da torcida Áureo-Cerúlea, como também o goleador do campeonato.
Essa foi a apresentação do jornal Diário Popular, quando Ademir falou um pouco sobre sua carreira, política e sociedade em geral.
Com o Pelotas já tendo conquistado inúmeros títulos ao longo dos seus mais de 111 anos de história, como o Bi-campeonato estadual em 1911 e 1930, o Bi-campeonato da Recopa em 2014 e 2020, as Copas Estaduais de 2008 e 2019, a Copa dos Campeões de 1957 entre outros títulos importantes, seria lógico que o torcedor guardasse com mais carinho esses momentos. Porém, alguns times que não levantaram taças, são tão lembrados e aclamados pelo torcedor, quanto os nossos campeões. É o que acontece quando falamos do inesquecível time de 1984.
Em um elenco de muita qualidade, que contava com Juarez e seu inseparável galho de arruda, Décio, João Carlos, Flávio, Eduardo, Claudemir, Toninho Costa, Sérgio Perez, Alamir, Paulo Ricardo, Ademir Alcântara, Luis Fernando Rosa Flores, Tijuca, Celso Guimarães, Rubinho, Miguel Amaral, Dóia, Jorge Luís, Muller e Edésio, comandados pelo inesquecível Paulo de Souza Lobo, o Galego, o Pelotas fez uma ótima campanha, chegando até o Hexagonal Final, e consagrando o Maestro Ademir Alcântara como artilheiro da competição com 21 gols marcados. Além das inúmeras vitórias, aquele time ficou marcado por não perder clássicos, e por isso, ganhou um espaço especial no coração do torcedor.
Ademir Alcântara chegou ao Pelotas vindo do Cianorte, com o aval do presidente Aleixo, através de indicação do empresário Antônio Pádua Gonçalves, e com a aprovação do ex-técnico do Pelotas, Paulo Sérgio Poletto.
Ademir Alcântara se tornou ídolo do torcedor não só por ser o artilheiro daquele Gauchão com 21 gols, mas também pelo desempenho nos clássicos. Além de não perder nenhum dos seis clássicos que disputou naquela temporada, ajudando a manter o Tabu que duraria 10 anos, Ademir marcou três gols contra o Brasil, dois deles em vitórias do Lobão por 1 a 0, e o terceiro no empate em 1 a 1 no Bento Freitas.
Nos dois primeiros clássicos daquela temporada, ainda pela primeira fase do Campeonato Gaúcho, dois empates. O primeiro deles no dia 27 de maio, no Bento Freitas, terminou em 1 a 1, gols de Zezinho para o Brasil (20/1º tempo) e Toninho Costa (38/2º tempo), em uma pintura, para o Pelotas. O segundo duelo, disputado na Boca do Lobo no dia 22 de julho, novo empate em 1 a 1, com Zezinho (10/1º tempo) marcando para o Brasil e Miguel Amaral (42º/2º tempo) para o Pelotas. Em ambas as partidas o Pelotas buscou o empate no final da partida. Mas o que já era ruim para o rival, iria piorar.
Na sequência da competição, com o Pelotas classificado para a 2º fase, novamente teríamos o clássico Bra-Pel pela frente. Pelo lado do Brasil. após o empate nos últimos minutos do clássico anterior, troca no comando, saindo Luiz Felipe Scolari e entrando Decá no seu lugar. No lado Áureo-Cerúleo, Galego permanecia no comando.
O MAESTRO ENTRA EM AÇÃO
E no terceiro clássico daquele ano, a estrela de Ademir Alcântara começou a brilhar com mais força. Na partida dispuata em 19 de agosto, na Boca do Lobo, o Maestro foi decisivo.
Em um jogo disputadíssimo, como já é característica do clássico Bra-Pel, o Pelotas garantiu a vitória através do seu craque. Ademir Alcântara de cabeça, aos 15 minutos do 1º tempo, marcou o único gol do jogo. Festa
O campeonato seguia seu curso, e Ademir seguia a empilhar gols e o Pelotas vencendo. O time começava seu romance com o torcedor Áureo-Cerúleo, era uma troca que ganhava força. A torcida empurrava do lado de fora, e o time correspondia dentro de campo.
O MAESTRO VIROU CARRASCO
Era chegado o momento de mais um clássico Bra-Pel. O 4º da temporada, dessa vez disputado no Bento Freitas, casa do rival.
E no dia 12 de outubro, a bola rolava para mais um confronto inesquecível. O Brasil por jogar em casa, vinha com força para devolver a derrota sofrida no clássico anterior. O Pelotas por sua vez, sabia disso, e com um time experiente e malandro o suficiente para não cair nas armadilhas do Bra-Pel, soube matar o jogo na hora certa e administrar a partida até o seu final. Aos 38 minutos da primeira etapa, ele, o predestinado Ademir Alcântara, não perdoou e marcou o único gol da partida. O torcedor do Pelotas, no deslocamento do estádio Bento Freitas até a Boca do Lobo foi só festa. Na chegada do ônibus com a delegação do clube, mais festa, dessa vez entre torcida e jogadores.
Aquele elenco não era mais um time, eram vencedores, uma família que sabia muito bem o que o Bra-Pel significava, e mais do que isso, encarnou o espírito lutador que o torcedor sempre exaltou. E tinha mais.
MAIS UM CLÁSSICO
No dia 27 de novembro, acontecia na Boca do Lobo o 5º clássico da temporada. Dessa vez, apesar da luta e das oportunidades criadas, o placar não saiu do zero. O tabu seguia em pé, mais ainda tinha mais.
O ULTIMO CLÁSSICO DO ANO, O MAESTRO BRILHOU MAIS UMA VEZ
E no dia 05 de dezembro de 1984, a cidade parou para ver o ultimo clássico da temporada. O Pelotas seguia com o tabu de não perder clássicos. O Brasil, prometia que a vitória não passaria daquela noite. As torcidas mobilizadas como nunca, sabiam que aquele clássico seria especial.
A bola rola e o Brasil confiante, pressiona. O Pelotas sabendo da importância daquele jogo, luta. O Brasil após muito tentar, abre o placar aos 23 minutos do 1º tempo atravez de Lívio. Festa do lado vermelho, apreensão do lado Áureo-Cerúleo. A partida permanece equilibrada e assim termina a primeira etapa. Inicio do 2º tempo e o jogo segue com equilibrio, a tensão toma conta de todos presentes no estádio. A partida se encaminha para o fim, a torcida do Brasil canta alto, sente que enfim o tabu seria derrubado. A torcida do Pelotas silencia, tensos os torcedores se agarram na fé. Sabem que o time não se entrega. 45 minutos do 2º tempo, jogadores, dirigentes e torcedores do Brasil pedem o fim do jogo. Ao lado do banco de reservas se enxerga um dirigente Xavante colocando sua joelheiras, pois havia prometido na imprensa que atravessaria o gramado de joelhos caso a vitória fosse vermelha. Ele crente da vitória se prepara para a festa. Os Xavantes esperam pelo apito final do arbitro Roque José Gallas. Os Áureo-Cerúleos com o coração na mão, não se entregam, o amor pelo clube não deixa, resta uma esperança.
E a fé que aqueles torcedores mantinham, também permanecia nos nossos guerreiros. E em um balão do goleiro Juarez, Miguel Amaral e Jorge Luís não desistem, e em um desvio o carrasco Ademir corre em direção ao gol, com fé, o Maestro acredita na jogada, e a bola caprichosamente o procura. Ele entra e com a categoria que já o consagrava, desvia para o fundo das redes do goleiro Noslen. Silêncio do lado vermelho, festa do lado Áureo-Cerúleo. Era o inacreditável acontecendo, fruto da fé de uma nação. Esse time não era só mais um, era um time para a história.
O dirigente Xavante recolhe suas joelheiras, os descrentes enxugam suas lágrimas, a festa não mudaria de lado naquela noite, seguiria ao lado dos Áureo-Cerúleos por mais alguns anos. O Tabu se manteria. Era festa, loucura total, um jogo antológico e inesquecível para os torcedores e jogadores do Pelotas. Não era mais um clássico, era a história sendo feita por um elenco que soube vestir o Manto Sagrado como poucos. Era o time que tinha um Maestro, e que jamais se entregou.
No programa Arquivo Entrevista do dia 15 de maio, perguntado sobre o gol mais importante que marcou pelo Pelotas, Ademir sem titubear citou o gol marcado nos acrescemos do clássico Bra-Pel, marcado aos 51 minutos do segundo tempo, calando a torcida rival, que já comemorava a “vitória”.
“O mais importante foi aquele do Bra-Pel no Bento Freitas, aos 51 minutos do 2º tempo, com o Brasil ganhando de 1 a 0 e a torcida deles já comemorando a vitória. Ai o chute do nosso goleiro, a bola molhada e dois jogadores subiram de cabeça, acho que foi o Miguel Amaral ou o Paulo Ricardo que desviaram, sai correndo em direção ao gol, acreditei na jogada, sei lá, coisa de Deus, sem explicação, só sei que entrei e toquei na saída do goleiro e empatei o jogo. A torcida do Brasil jogou rádio, guarda-chuva… olha, joguei em muitos times, jogos importantes, fui campeão, mas esse gol ai, foi um espetáculo. A torcida do Brasil totalmente desequilibrada… foi um momento inesquecível.” disse Ademir.
A CARREIRA NA EUROPA
Após o grande destaque defendendo o Pelotas, Ademir Alcântara foi negociado para o Internacional. Na sequência o Maestro se transferiu para Portugal, onde permaneceu por quase uma década. Por lá defendeu clubes como Vitória de Guimarães, Benfica, o Boavista e o Marítimo.
Pelo Benfica, Ademir Alcântara foi Campeão Português e vice Campeão da Champions League, quando o Benfica acabou derrotado pelo Milan na decisão.
ADEMIR ALCÂNTARA EM APRESENTAÇÃO PELA SELEÇÃO
Ainda quando atuava pelo Benfica, Ademir foi convocado para defender a Seleção Brasileira em 1989, em um amistoso beneficente a favor do Chiado, bairro português destruído em um incêndio. Apesar de contar apenas com jogadores que atuavam em Portugal, o selecionado teve a chancela da CBF. A Seleção foi comandada pelo técnico Paulo Autuori, que na oportunidade treinava o Nacional-PORT. O treinador da Seleção principal era Sebastião Lazaroni.
Na partida disputada no Estádio da Luz, em Lisboa, com gols de Silas e Paulinho, o Brasil venceu Portugal por 2 a 1.
RETORNO AO FUTEBOL BRASILEIRO
Já no segundo semestre de 1994, Ademir retornou ao Brasil. Após uma passagem rápida pelo Mogi Mirim, Ademir Alcântara se transferiu para o Coritiba. Pelo Coxa, disputou as temporadas de 1995 e 1996. Já no primeiro ano, atuando ao lado do meia Alex, foi peça fundamental para o retorno do Coritiba para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, após disputar o Campeonato Brasileiro, Ademir decide se aposentar.
A DESPEDIDA DO MAESTRO
Após uma carreira brilhante, Ademir Alcântara se despede oficialmente do futebol. No dia 04 de Outubro de 1997, a Boca do Lobo recebeu pela ultima vez, de forma oficial, o Ídolo Áureo-Cerúleo. Em uma partida muito disputada, o que menos importou foi a falta de gols. No empate em 0 a 0, o destaque foi todo dele, o Maestro Ademir Alcântara.
FOTOS DE ADEMIR ALCÂNTARA COM O MANTO ÁUREO CERÚLEO EM 1984
HOMENAGEM NO CENTENÁRIO DO PELOTAS
JOGO FESTIVO DOS 111 ANOS DO PELOTAS
ARQUIVO ENTREVISTA