Hoje vamos relembrar o texto do Eugenio Brauner, que brilhantemente, relatou um pouco da paixão que move a Nação Áureo-Cerúlea, e que faz, mesmo em situações adversas, o torcedor atravessar o estado para empurrar o clube, independente do momento e circunstancias. O texto foi escrito em junho de 2008, após uma partida entre Pelotas e Porto Alegre, disputada no Estádio da PUC, que terminou com vitória Áureo-Cerúlea por 1 a 0, com gol do zagueiro Rudi.
Texto publicado por Eugenio Brauner em 25 de junho de 2008.
Porto Alegre e Pelotas: noite de sábado
Passava de carro pela Ipiranga, quando vi as luzes do campo de futebol da PUC acessas. Eu vinha de uma festinha de aniversário – aquelas de criança, com cachorrinhos, docinhos, cerveja e toda a gama de acepipes que abrilhantam tais festas – e ia para a incerteza clássica das noites de sábado. Como já estou ficando velho – e nada melhor que a falta de vergonha que a idade nos proporciona – resolvi estacionar o carro e ver o qual era o furdunço que ali se realizava.
Abro um parêntese para dizer que o preço do estacionamento é um absurdo, fico imaginando o valor das mensalidades… O que estaria acontecendo? E se fosse um campeonato colegial de atletismo? Ou se fosse uma aula de “Fundamentos do Salto em Distância à Luz da Teoria Pós-Munteanu” da faculdade? Arrisquei. E me dei bem, porque era um jogo de futebol. E me dei melhor ainda, porque era Porto Alegre versus Pelotas, válido pela primeira rodada do octogonal final do Gauchão Série B.
A torcida áureo-cerúlea compareceu em peso ao Complexo Esportivo da PUC/RS. Eram – e eu sou péssimo nisso – mais de mil torcedores do Pelotas e quatro do Porto Alegre: a namorada do meio-campista Tuta, os dois sobrinhos do camisa 8 Bibi e o motorista do ônibus da delegação. Subindo os degraus da arquibancada – por sinal, o estádio é muito bonito e o gramado parece o do Villa Park, de Londres – dei de cara com ele, o cara que me botou para dormir cedo em várias noites dos anos 90: Jardel. Esse mesmo. O Jardel ex-Karen Matzenbacher estava ali prestigiando a peleia.– Estou aqui, mas estou pensando no jogo de amanhã (o gre-nal do showball). Tenho a certeza de que vamos fazer uma grande apresentação e que a torcida tricolor pode esperar o maior empenho do grupo…
O Porto Alegre entrou em campo com uma jaqueta amarelo-limão, aos moldes do Palmeiras, Chelsea, Arsenal ou Barcelona. Aliás, o Porto Alegre é de propriedade dos Assis Moreira, o que me leva a crer que a camiseta era refugo do Barcelona mesmo. A partida foi pegada no meio de campo, um chove-não-molha-e-nem-seca. O Porto Alegre com a posse de bola, mas sem ser incisivo, parecendo guri novo em puteiro. Quem assustava era o Pelotas, com os intermináveis Cássio (goleiro), Aládio (zagueiro), Rodrigo Gasolina (atacante, meia, volante e auxiliar técnico) e Sandro Sotilli (atacante) desfilando os cabelos brancos no gramado.
A torcida do Pelotas foi um show à parte. Cânticos parecidos com os das barras sul-americanas, não deixavam ninguém sentir frio. Barras azuis e amarelas, panos dependurados pelos alambrados (chamou-me atenção um que dizia: se te amar é pecado, que me espere o inferno) coloriam a noite gelada. A festa foi linda quando o Rudi foi às redes no segundo tempo.
Final: vitória do Lobão pelo escore mínimo e a conclusão de que um time Centenário tem que estar na elite. É a paixão que leva MIL torcedores a vencerem os 256 quilômetros que separam Porto Alegre e Pelotas, em uma noite que o termômetro marcava 6 graus, para assistir um jogo de segunda divisão que, inclusive, foi televisionado para todo o Rio Grande do Sul.
*Eugenio Brauner é professor, literato militante e presidente do Movimento Pelotas Uber Alles, dedicado à recuperação futebolística da gloriosa cidade do Sul do Estado.
LANCES DA PARTIDA:
2 comentários
Quem era o treinador do pelotas nesta partida
O técnico do Pelotas nessa partida era o Rogério Zimmermann. Abraço