Meia foi o artilheiro do Gauchão daquele ano, com 21 gols
Mesmo que o Pelotas tenha conquistado dois Gauchões, nove títulos de campeão do interior, a tríplice coroa em 2013/14 e em 2010 tenha chegado à decisão da Taça Fábio Koff (o segundo turno do campeonato gaúcho), a memória do torcedor guarda com muito carinho um time que não levantou taça mas ficou na história pela campanha no Gauchão de 1984.
Naquele ano, a rivalidade Bra-Pel vivia um momento de desequilíbrio. De um lado, o Brasil em grande fase, vivendo um momento de projeção nacional após a excelente campanha no Brasileirão. De outro, o Pelotas buscando recuperação depois de amargar três temporadas na Segundona Gaúcha.
– Aquele foi um ano especial para o Pelotas, pois marcou a volta à Primeira Divisão. Montamos um grande time, com destaque para o goleador Ademir Alcântara, nosso eterno ídolo. E foi, além de tudo isso, mais um ano em que o Pelotas não perdeu o clássico – destaca Luiz Antônio de Mello Aleixo, presidente do clube na época e responsável pela montagem do time que tinha o comando do técnico Paulo de Souza Lobo, o Galego.
Diante do melhor momento do rival, não perder nenhum Bra-Pel passou a ser um verdadeiro campeonato para Lobão. Era uma questão de honra. Era a hora de recuperar a grandeza e reequilibrar a gangorra. E mesmo que o Brasil tenha ficado à frente na tabela, o Pelotas considerou-se vitorioso na batalha caseira. Levou a melhor nos seis clássicos disputados no campeonato: venceu dois e empatou quatro. E esse desempenho ajudou a aumentar o longo jejum do Xavante que vinha desde 1982 e se estendeu até 1992.
Dos seis clássicos, o último, válido pelo hexagonal e disputado sob chuva intensa no Bento Freitas, teve um sabor especial para os “áureo-cerúleos”. Existia entre os xavantes a ideia que o jejum acabaria naquele jogo. E, segundo conta Luiz Antônio de Mello Aleixo, um dirigente do Brasil havia feito uma promessa e divulgara na imprensa que, caso Brasil vencesse, ele atravessaria o gramado de joelhos. “Nós estávamos perdendo e como os bancos eram próximos, avistei esse dirigente de joelheiras, pronto pra cumprir a promessa. Mas aí, já nos acréscimos, o Ademir Alcântara meteu a cabeça e empatamos. Logo em seguida, o jogo acabou e, quando olhei para o banco adversário, já não tinha mais dirigente, nem joelheira”, conta.
Ademir Alcântara virou ídolo do Pelotas não só por se tornar artilheiro daquele Gauchão com 21 gols, mas também pelo desempenho nos clássicos. Além de não perder nenhum dos seis que disputou, marcou três gols contra os xavantes.
– Eu sou reverenciado até hoje pela torcida do Pelotas. Recebi várias homenagens e estou na seleção do centenário do clube. Para mim, tudo isso é uma honra muito grande – confessa ele, hoje com 54 anos e morando em Curitiba, onde atua no ramo da construção civil.
Ademir Bernardes Alcântara nasceu em Cianorte, no Paraná. Criado nas categorias de base do extinto Pinheiros, atual Paraná, o meia-esquerda chegou a Pelotas por empréstimo através do presidente Aleixo, que foi atrás de uma indicação recebida do empresário Antônio Pádua Gonçalves e teve o aval do técnico Paulo Sérgio Poletto, que havia trabalhado no antigo clube.
Ele ficou apenas nove meses na Boca do Lobo e, ao final da temporada, foi negociado com o Inter, de onde partiu para Portugal. Na Europa jogou no Vitória de Guimarães, Benfica, Boavista e Marítimo. Retornou ao Brasil para jogar no Mogi Mirim e encerrou a carreira em 1996 após duas temporadas pelo Coritiba. E para homenagear o ídolo, que também é conselheiro do clube, o Pelotas realizou um jogo de despedida para Ademir Alcântara em 1997 que teve um empate em 0 a 0 com o Rampla Juniors do Uruguai,
O time-base do Pelotas em 1984 teve Juarez e seu indefectível galho de arruda atrás da orelha; João Carlos, tricampeão brasileiro pelo Inter em 1979; Eduardo, Claudemir e Toninho Costa; Sérgio Perez, Paulo Ricardo e Ademir Alcântara; Celso Guimarães, Miguel Amaral e Jorge Luís. E o técnico Galego contou ainda com o goleiro Décio, o lateral Flávio, o volante Alamir, os meias Luís Fernando Rosa Flores (que veio do Inter SM para a fase final), Tijuca e Rubinho e os atacantes Doia e Muller.
ZHEsportes – CLÉBER GRABAUSKA – 27/01/2017