A teimosia, o caos e o amor

Dá pra gente combinar que todo mundo é teimoso. Ou pelo menos já foi quando criança, sei lá. Eu mesmo estou sendo teimoso faz alguns dias, recebendo uma ordem pra escrever sobre o Pelotas e sua linda jornada em 2024. Sim, eu bebo – mais do que deveria e menos que gostaria – escuto uma boa música e começo a receber ordens diretas que preciso escrever. Ainda antes daquela noite com nevoeiro de filme americano a ordem foi bem clara: “Não perde a porra da chance, o Pelotas vai subir daqui uns dias, tu bebeu o suficiente e a música é só ligar o fone”. Mas eu sou teimoso. Talvez estivesse ouvindo o Louruz falar – apesar que ele não falaria palavrão – e ignorei.  Idiota.

Da mesma forma que o Ariel ignorou as milhares de vozes reclamando que ele escalou fulano, substituiu ciclano, não mudou a forma de jogar. Como o Rodrigo ouviu de toda família chamando ele de louco quando avisou que não bastava ser médico não remunerado, ele seria presidente com remuneração negativa. Do Tavares ao ouvir a própria consciência dizendo pra ficar com as lembranças do título do interior de 2001 e não correr o risco de uma derrota em 2024. Do Vinicius ouvindo a noiva falando pra ficar com as boas memórias de uma juventude feliz na arquibancada e deixar pra lá os bastidores sofridos, caros e trabalhosos.

Até mesmo do Allan sabendo que a dívida moral com a alcatéia era enorme e precisaria de um ou outro penalti e um acesso pra compensar. Do Helder, do Heverton e do Christianno não terem perna pra carregar o piano. Do Clayton jogar pra caralho mas não ter saúde. Do Vitor Jr ser craque contra muito volante ruim e campo embarrado. Do Adryel sair dos confortáveis jogos da base pra insanidade de uma segundona gaúcha e o seu penalti decisivo na fria Vacaria. Do Leo ir cobrar outro simples penalti e precisar quebrar, sei lá, um feitiço. Do Warley ter a desconfiança da torcida e correr diretamente para o gol do acesso que só quem acredita cegamente aproveitaria. E de todo grupo que aceitou uma missão dolorosa mas histórica.

Mas, obviamente, da torcida. Ela duvidou de tudo e de todos. Da direção, do treinador novo, do time e talvez, em alguns momentos, até de si. Porque não acreditar no Pelotas é não acreditar nela mesma. Afinal, o Pelotas é a sua torcida. O que nós fazemos, como fazemos e até mesmo o que deixamos de fazer fazem o Pelotas ser o que ele é. E hoje quando a gente ver o Bruno Coutinho chegar no ônibus deles e abrir um sorriso lembrando que precisamos ir no cartório registrar aqueles 15 minutinhos que nos devem, tomar um gole de chopp vendo as ruas pegando fogo quando o nosso ônibus passar e os extintores assobiando enquanto as duas cores sagradas sobem numa obra de arte que anuncia a entrada dos onze, hoje nós poderemos ver um jogo do Lobo em paz.

Querendo, desejando e gritando pela vitória. Mas em paz. Sabendo que em 2025 o Gauchão vai ter o tamanho que merece com a volta do Pelotas e sua gente. Da Boca do Lobo cheia, das estradas lotadas com as nossas caravanas. Do Rio Grande do Sul alegre vendo nosso amor pelo Esporte Clube Pelotas, porque antes de mais nada o amor é teimoso. E de amor e teimosia a gente entende.

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