Sessão Túnel do Tempo: O Rei Pelé na Boca do Lobo, no confronto entre Pelotas e Santos, em 1957

O dia em que o lendário gramado da Boca do Lobo, estádio mais antigo do país, viu nascer o Rei Pelé.

Pelé nasceu em Três Corações, no dia 23 de outubro de 1940, morou em Bauru e chegou ao Santos em agosto de 1956. No ano seguinte, com apenas 16 anos e pouco mais de 6 meses no clube, veio ao Rio Grande do Sul para disputar uma série de confrontos pelo Santos. Após três partidas em solo Gaúcho, no dia 19 de março de 1957, o Rei do Futebol pisou pela primeira vez no gramado do Estádio da Boca do Lobo, único estádio da cidade a receber o Rei do Futebol, para enfrentar o Pelotas.

Naquela oportunidade, o clube praiano veio representado por todos os principais valores de seu poderoso esquadrão, que contava com astros como Jair Rosa Pinto, Dorval, Pagão, Del Vecchio e ele, o ainda jovem Pelé.

A seguir, relembramos detalhes da partida, com reportagens da época, publicadas pelos jornais Diário de Noticias, Jornal do Brasil e a Gazeta Esportiva.

CAMPEÃO x CAMPEÃO

O Santos joga hoje a noite em Pelotas

O famoso esquadrão do Santos, Bicampeão Paulista de Futebol, atuará hoje a noite na cidade de Pelotas, enfrentando a equipe representativa do clube do mesmo nome, num prélio que está empolgando o mundo desportivo da Princesa do Sul. Joel Etzel, arbitro Paulista, dirigirá o cortejo.

A PARTIDA

VITÓRIA APERTADA DO BICAMPEÃO PAULISTA SOBRE O PELOTAS: 3 a 2

Perante grande assistencia, que rendeu nas bilheterias 143.500 cruzeiros, exibiu-se hoje a noite, no campo do Pelotas, o poderoso elenco do Santos, Bicampeão Paulista, contra o Campeão Local.

Após um primeiro tempo parelho, com os Pelotenses mostrando grande entendimento e disposição, com os Paulistas se entregando pouco, o quadro da Vila Belmiro cresceu na fase final, terminando por ganhar o jogo pelo escore de 3 a 2. Foi uma partida que agradou bastante, tendo o esquadrão visitante deixado toda a sua classe de maior do Brasil no momento.

A primeira fase findou igualada em 1 a 1. Pagão, cobrando um penalti (ao nosso ver inexistente), de Getúlio em Del Vecchio, abriu o escore aos 30 minutos. Dez minutos após, em visível impedimento, Nei Silva empatou para o Pelotas.

Mal iniciada a segunda etapa, aproveitando uma falha clamorosa de Duarte, que quis fazer classismo, Dorval desempatou para o Santos, quando transcorriam apenas 5 minutos. Duartinho, numa jogada infeliz, marcou contra sua cidadela, consignando o terceiro gol Santista, aos 20 minutos. Quando faltavam 10 minutos para terminar a partida, Wilson cometeu penalti em Dirceu, tendo Duartinho cobrado com sucesso.

As equipes formaram assim:
SANTOS – Manga, Hélvio (Wilson) e Ivan, Fioti, Ramiro e Urubatão, Dorval, Jair, Pagão (Pelé) Del Vecchio e Tite.
PELOTAS – Joãozinho, Getúlio (Spilman) Duarte, Cléo, Brauner e Duartinho, Bedeuzinho, Dirceu, Barão, Nei Silva e Deraldo.

O Paulista João Etzel foi o arbitro, com regular atuação, falhando nos dois lances que comentamos.

DIFÍCIL VITÓRIA DO SANTOS EM PELOTAS

Batido o Pelotas por 3 a 2 – Tentos de Pagão, Dorval e Duartinho (contra), Nei Silva e Duartinho – Renda superior a Cr4 200.000,00

Pelotas, 19 (Sport Press) Prosseguindo na sua excursão pelo Estado do Rio Grande do Sul, o Santos F.C. Bicampeão Paulista, enfrentou hoje o E.C. Pelotas. Teve o grêmio paulista muito trabalho para vencer, pois os locais se empregaram a fundo, exigindo o máximo dos esforços dos visitantes.
Na primeira fase, o placar se espelhou em 1 a 1, com um tento de Pagão, aos 30 minutos e outro de Nei Silva, aos 40.
Na fase final, Dorval assinalou o segundo tento Santista, aos 7 minutos e Duartinho, numa jogada infeliz, marcou contra, fazendo 3 a 1, aos 17 minutos. Aos 35, Duartinho, cobrando uma penalidade máxima, encerrou o marcador – 3 a 2 para o Santos.

Boa renda proporcionou o embate, sendo superior a Crs 200.000,00.
Na arbitragem, com bom trabalho, funcionou o paulista João Etzel Filho.

Destaques do Adversário:

BOCA DO LOBO NO SELETO GRUPO DE ESTÁDIOS GAÚCHOS A RECEBEREM PELÉ

A Boca do Lobo, estádio mais antigo do país, está no seleto grupo dos 8 Estádios do Rio Grande do Sul que tiveram a honra de receber em seu gramado, o maior jogador da história do futebol mundial.

Além da casa Áureo-Cerúlea, receberam o Rei Pelé, o Estádio Olímpico, o Estádio Beira Rio e o Estádio Tiradentes, casa do Renner, em Porto Alegre, o Estádio Torquato Pontes, em Rio Grande, o Estádio Alfredo Jaconni, em Caxias do Sul, o Estádio Estrela D’Alva, em Bagé e o Estádio Colosso da Lagoa, em Erechim.

OS ELENCOS DA ÉPOCA

A METEÓRICA CONSAGRAÇÃO DO REI PELÉ

Em março de 1958, exatamente 1 ano após a apresentação na Boca do Lobo, Pelé foi confirmado por Feola para a Copa do Mundo na Suécia. Caçula do grupo, Pelé assumiu o posto de titular da Seleção na terceira rodada, após lesão de Dida. Ainda jovem, Pelé foi decisivo na fase final, ao marcar o gol da vitória sobre o País de Gales por 1 a 0, que classificou o Brasil às semifinais. Na final contra a Suécia, Pele foi decisivo ao marcar dois gols na goleada por 5 a 2, sendo o grande destaque na primeira conquista Brasileira na história das Copas.

A década de 1960 o consagraria, definitivamente, como o Rei do futebol. Com a Seleção Brasileira, conquistou o Bicampeonato na Copa do Mundo de 1962, realizada no Chile. Com o esquadrão Santista de Gilmar, Coutinho e Pepe, foi o dono das Américas e, depois, do Mundo, ao ganhar o bicampeonato da Libertadores e do Mundial Interclubes, em 1962 e 1963. No Brasil, teve a sequência de cinco títulos da Taça Brasil, iniciada em 1961 e finalizada em 1965.

A terceira conquista de Pelé em Copas do Mundo, veio na emblemática Copa de 1970, disputada no México.

O REENCONTRO DO REI COM A AMARELINHA – A ORIGINAL

Em 2003, 46 anos após pisar no gramado da Boca do Lobo, Pelé recebeu das mãos de Veraldo Nunes, então dirigente do Pelotas, o Manto Áureo-Cerúleo, em um evento de telefonia em São Paulo.